Alguem escuta?

A vida deles parou

Como filhos que perderam os pais na tempestade

Como quem olha pela janela do orfanato

Corações fechados

Desilusão doença dor muita dor

 

Doentes sem alegria sem cura sem esperança

Feios e sujos como os amontoados de destroços de tsunami

Estão atrelados nos laços de mentiras

Falar com quem não mais tem vontade de viver

 

No cais não chega o barco

Não têm pra onde ir

O arame farpado abriu feridas nas carnes

Maranada de doentes famintos e fracos

Que não conseguem pular as cercas dos medos e das sombras

 

Clamores de noite sem respostas de dia

Dúvidas loucas e nada de saída

Esta angústia congela por dentro e esmaga por fora

Impede o abraço o cântico e o riso

Impede o amigo de chegar mais perto

Nada faz abrir o coração fechado como um rochedo

 

Enquanto os hipócritas dormem

Esses maltrapilhos continuam insones

Não há mais palavras na oração

No escuro do amanhã que não chega

Olhos secos de tristeza

Os braços não se erguem

Os joelhos não se dobram

 

Deserto

Desespero

Destempero

Loucura

Pedaços

Tristezas

 

Vazios!