Entrevista com o Pr. Eduardo Gil Vasconellos

Estamos aqui hoje em um encontro especial, tendo como interlocutores Alandati, como entrevistador, e o Pr. Eduardo Gil Vasconcellos, como entrevistado.

Alandati: Em qual circunstância e em qual denominação o pastor se converteu?

Pr. Eduardo: Tive contato com a Palavra desde a adolescência, quando a minha genitora lia para os filhos, um total de nove, residentes no interior do Rio Grande do Sul. Nesta mesma fase de adolescência, despertado pelo incentivo da mãe, procurava estudos em diversas denominações evangélicas, sempre com o foco de pesquisa e confrontação com o que a Palavra dizia. Na juventude, houve um afastamento do que era a vontade do Senhor para minha vida, e por certo, recebi diversos livramentos, mesmo porque tinha noção do meu erro, e o temor prevalecia no meu coração, apesar de estar provisoriamente vivendo como um pródigo. Nunca deixei de orar, e de conversar com Deus. Ao retornar para o caminho do Senhor, a minha família se encontrava na Assembleia de Deus, onde realmente me converti.

Alandati: Por quanto tempo permaneceu na AD, e que tipo de experiências teve lá?

Pr. Eduardo: Fui batizado com o Espírito Santo na AD, tive um aprofundamento do conhecimento bíblico, e trabalhava intensamente, enquanto jovem de tal denominação, visitando presidiários, vilas, hospitais, participando de congressos, etc.

Alandati: Por que o Senhor saiu da AD e passou para a ICM?

Pr. Eduardo: Com um ano de caminhada na AD, minha mãe abriu as portas para um trabalho da ICM, onde pessoas que eram da AD tinham se retirado para essa outra denominação citada, e mesmo diante da minha relutância inicial, por ser a casa da minha mãe, respeitei e comecei a participar daquele grupo, além de continuar me congregando na AD. Depois de uns meses, “encantado” com o “canto da sereia”, passei a fazer parte somente do grupo que se reunia na casa da minha mãe, da ICM, tendo permanecido neste lugar por dois anos e nove meses. Ah, se arrependimento matasse…

Alandati: Depois o trabalho evoluiu para um templo?

Pr. Eduardo: Sim, foi adquirida uma casa um pouco distante, e que foi adaptada para um templo da “obra”!

Alandati: Como o senhor se tornou pastor da ICM?

Pr. Eduardo: Na mesma congregação que me referi acima, casei-me e fui diácono por cinco anos, depois mudei para a capital do Rio Grande do Sul, onde fui ungido e fiquei por três anos nessa função (desconhecida da bíblia por sinal), de 1994 a 1997. Em 21 de março de 1997, fui ordenado pastor da ICM.

Alandati: Quais as características que, a seu ver, foram preponderantes para a sua ordenação na ICM?

Pr. Eduardo: Na verdade, desde os tempos da AD, eu tinha essa promessa de Deus, por meio de profecia no seio da igreja. Isso quer dizer que, não importando estar na ICM ou em qualquer outro lugar, eu sentia o chamado de Deus para a função de pastor. Quando na ICM, apesar de ter personalidade forte e espírito questionador, os trabalhos, nacionais e no Mercosul, que eram colocados sob minha responsabilidade, tanto como diácono como ungido, prosperavam, e acho que era o que o pes queria! Posso citar templos que foram iniciados em decorrência da minha assistência, como Santo Ângelo/RS, Santa Rosa/RS, Erexim/RS, Joaçaba/SC, participei do início da “obra” em Montevideu/ROU, Dom Pedrito/RS, Bagé/RS, Erval/RS, Rio Grande/RS, Canoas/RS. Então, acredito que esse empenho tenha sido preponderante, mesmo porque era frutífero, para o interesse em me preservar no meio da ICM.

Alandati: Quem cobria os gastos para os teus deslocamentos em favor do crescimento da “obra” icemítica?

Pr. Eduardo: De 1992 a 1998, cerca de setenta por cento dos gastos, incluindo combustível, hospedagem e alimentação, foram arcados do meu próprio bolso. Destaco esse período porque nos outros tinha pelo menos o ressarcimento do deslocamento, seja passagem de ônibus ou combustível. No período citado, fiquei mais de uma vez por até três meses, sem passar um final de semana sequer em casa. Não sei como a minha esposa suportou essa situação! É por isso que muitos casamentos foram desfeitos nessa seita! Maridos, pais, filhos, irmãos, esposas, AUSENTES! Tudo pela “obra” em primeiro lugar!

Alandati: Por que o senhor entendia que deveria se doar tanto para a “obra” maranática?

Pr. Eduardo: Até hoje me pergunto, talvez estivesse hipnotizado ou fora de mim, tamanha loucura que cometia em favor dessa seita. Por isso, falo contundentemente em minhas postagens: saiam desse hospício antes que seja tarde! Enquanto eu doava e muitos faziam o mesmo, o tempo, esforço, voluntariedade, valores, outros lá em cima, no pes, enriqueciam às nossas custas.

Alandati: Por quanto tempo permaneceu na seita maranática?

Pr. Eduardo: Foram quase TRINTA anos da minha vida, hoje digo, desperdiçados com essa casa mal assombrada! Pois me afastei de familiares, até da minha própria esposa, de amigos, e do convívio social no geral, tudo em prol do tal “entendimento de obra”, que me entorpecia e me cegava!

Alandati: Então, o fato que o levou a decidir sair da ICM foi a escravização como pastor da “obra”?

Pr. Eduardo: Alandati, vou te ser bem sincero, e relatar o que aconteceu comigo. Tinha contato muito intenso, devido a viagens frequentes ao ES, com um pastor que era da comissão executiva, que inclusive tem uma função social de relevância na sociedade, e esse me dizia que havia muita coisa errada no presbitério, e que o chefe maior, o comendador, era um mal educado, e só se preocupava em adquirir bens, móveis e imóveis. Para o sábio, meia palavra bastaria, então pude deduzir o que estava por trás.

Alandati: O senhor então fundamentou tua saída em apenas rumores de que houvesse coisa errada no pes?

Pr. Eduardo: Definitivamente não! A coisa é muito séria, Alandati, pois como eu descrevi, havia uma sinalização de alguém próxima do pes que havia algo errado, isso já me deixava com a pulga atrás da orelha, mas ainda aliado a isso, eu por conhecer a realidade dos bastidores da “obra”, no RS, por exemplo, ao me levantar por diversas em favor das ovelhas e contra delitos e atitudes levianas e cruéis de meia-solas, não via amparo e nem correção do pes, pelo contrário, percebia acobertamento, e o pior, passei a ser declaradamente perseguido pela liderança do pes, e da coordenação regional do RS. Isso me causava espanto porque sempre fui sério e entendia, assim como hoje, que a dignidade das pessoas é inegociável, e via infelizmente pessoas se vendendo por riquezas dessa vida.

Alandati: Sobre os escândalos, o que o senhor soube a respeito? O conhecimento de algum fato em especial contribuiu para a decisão em se retirar da ICM?

Pr. Eduardo: Para te falar a verdade, depois que ouvi a declaração do pastor da comissão, comecei a pesquisar os fatos, e descobri muitas coisas que posteriormente foram reveladas pela própria mídia capixaba. Além disso, observava que o pes não era sério, visto que não tomava posições coerentes com as situações de erros descobertos, mas de forma estranha, dava mais suporte ainda aos erros dos “chegados”! Declara ainda que há muita lama que vai vir à tona no tempo certo! O tsunami está chegando!

Alandati: Então, o senhor soube dos delitos, cuja autoria é em tese conferida aos membros do pes, bem antes de tudo estourar na mídia?

Pr. Eduardo: Alandati, eu saí em 04 de abril de 2011, ou seja, aproximadamente um ano antes de tudo estourar na mídia capixaba! Claro que não sabia de tudo na amplitude como as coisas aparentam estar, gigantes, mas guardadas as proporções, até pela facilidade de acesso a muita gente na “obra”, eu contemplei muitas irregularidades em pequenos negócios, infidelidades, mentiras, disputas por poder, ganância, avareza, discriminação, perseguições, politicagens, falsidade, heresia, e isso tudo era inadmissível em um lugar que se dizia cristão.

Alandati: O senhor comenta sobre heresias. Pode dar exemplos de tais práticas cometidas dentro da ICM, e que são conhecidamente abominadas por Deus nas Escrituras?

Pr. Eduardo: Todas as doutrinas principais da ICM são heréticas, por mais que se baseiem em um fundamento da Palavra. Por exemplo, no clamor pelo poder do sangue de Jesus, quem executou essa prática na Bíblia? Jesus não ensinou em seu exemplo de oração a fazer menção ao Seu sangue, e sim ao SEU NOME! A expiação do pecado pelo sangue é bíblica, mas o pedido pelo sangue de jesus JAMAIS foi registrado na Palavra! Há muitos outros pontos como consulta à palavra (bibliomancia), meios de graça (enquanto só há um, a FÉ), revelação além da letra, etc.

Alandati: Com qual autoridade o pastor afirma ter heresias na ICM, visto que o sujeito é ordenado em tal denominação sem ter o mínimo conhecimento teológico, a ponto de não conseguir nem diferenciar seitas de religiões?

Pr. Eduardo: A primeira coisa que fiz após a minha saída da ICM foi me aprofundar na Palavra, e realizar um curso de teologia, além de procurar estudos que versassem sobre o assunto. A constatação de que tudo que vivia era bem próximo dos relatos heréticos fez com que me sentisse um “babaca”, assim como foi o relato em uma das minhas postagens! Alerto para um fato, que é cruel, a grande maioria dos pastores da icm não tem o mínimo conhecimento bíblico e teológico para questionamentos dessa estirpe, seguindo como uma postagem tua, Alandati, “papagaios de pirata”, a cartilha do pes!

Alandati: Como foi então de fato a sua retirada da ICM após os quase trinta anos de dedicação à “obra”?

Pr. Eduardo: Eu já tinha total visão da sujeirada que imperava nesta seita. O grande problema era desintoxicar o entendimento, bombardeado por anos na mente, de ter sido pertencente à “obra maravilhosa”, sem erros, e principalmente, que não teria vida saudável cristã fora da ICM! Sinceramente, não posso dizer que foi fácil, pois seria perseguido, caluniado, perderia amigos, parte da família se voltaria contra mim, mas em uma conversa com minha esposa, aquela mesma que me suportou no maior auge de loucura em entrega para a seita, declarou para mim, no dia 1º de abril de 2011: “Os incomodados que se retirem. Nós somos os incomodados, precisamos então sair”. E foi o que fizemos. Glórias a Jesus, o Senhor usou minha companheira com sabedoria para falar a vontade de Deus para nós. Hoje, vivemos liberdade no Evangelho puro, sem profetadas que não se cumprem, mistérios além da letra, interpretações, com nome de revelações, fora do contexto, e da praga chamada pes, que comanda a icm, capitaneada pelo comendador! Ressalto ainda que houve sinais, como sonhos, corroborando nossa decisão! Mesmo assim, até hoje sofremos com abalos psicológicos ocasionados pelo tempo de exposição à “radiação obriana”!

Alandati: O que o senhor pode deixar de mensagem, como pastor, a respeito da vida dentro da icm, principalmente para aqueles que estão de boa-fé?

Pr. Eduardo: Saiam, fujam, corram, enquanto ainda há tempo, pois quanto mais permanecerem, e se aprofundarem em tal seita, mais vai ser penoso, quando tiverem de sair, pois não há jeito de mudanças nesse sistema quadragenário, que demonstrou desde o início estar em prol dos interesses da dinastia gueiros em se perpetuar no poder. Outra coisa, todos vão ser envergonhados com o que estar por vir, pois vão faltar algemas!

Alandati: bem, é uma opinião de peso, e que deve ser considerada! Trinta anos não são trinta meses, nem trinta dias, nem trinta horas! Muitos daqui não tem nem essa idade!

A Paz do Senhor a todos e um abraço fraternal!