Fugindo do jugo de um sistema perverso

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NÃO ABRO MÃO DA MINHA LIBERDADE PORQUE CONHEÇO O PREÇO QUE JESUS PAGOU

Quando meu pai entrou na Maranata, 1979, fez de tudo para eu ir também. Quando viu minha resistência, acabou me dando um gelo com força. Passou a dar respostas curtas e a cara sempre fechada, dizia que eu era idólatra e ia para o inferno. Diante desse tratamento eu resolvi me converter ou convencer, porque eu tinha apenas 11 anos, era uma criança e não conseguia me impor ao meu pai. Então, perto da minha casa tinha uma Primeira Igreja Batista. Optei pela Batista porque lá eu poderia usar calça comprida. Eu não tinha nenhum vestido ou saia, realmente detestava essas roupas. Perguntei para ele se servia a Batista e ele disse que sim, qualquer coisa, menos a igreja de idolatria, da qual eu nem era frequente.

Procurei uma conhecida da Igreja Batista e disse que eu queria fazer parte da igreja. Ela devia ter uns 14 anos e me tratou muito bem, levou-me ao culto e apresentou-me às pessoas. Fui muito bem recebida. Os cultos eram uma bênção e apaixonei-me pela palavra de Deus, com direito a levantar a mão para aceitar Jesus. Batizei-me no início dos anos 80 e, acreditem, tenho um certificado de batismo até hoje. Fiquei na Igreja Batista quase 3 anos. Com o coração mais aberto para ouvir a palavra de Deus, eu fui conversando com os amigos de meu pai que frequentavam nossa casa. Acabei ouvindo sobre o batismo com Espírito Santo e dons espirituais e fiquei encantada. Por este motivo eu saí da Igreja Batista, onde era muito bem tratada, era o xodó de todos por ser novinha e estar sem minha família na igreja, além de não ter mãe. Lá eu recebia muito carinho, fui muito feliz. Mas eu queria viver a experiência dos dons espirituais. Assim sendo, fui para a Igreja Maranata.

No início foi normal. O tratamento não era o mesmo, mas era bom. Tive que abrir mão de usar calça comprida em nome da obra, mas fiz sem grandes problemas, um pequeno sacrifício em nome do sistema, porque nunca achei que fosse de Deus tal costume, mas aceitei. Era na época do LP e eu dizia que se a gente gosta de uma música tem que levar o disco inteiro. Eu não poderia ser a única a usar calça comprida, diziam que era roupa de homem, se eu usasse eu nunca seria nada dentro da igreja. Desde a época da Igreja Batista eu aprendi a tocar violão porque eu queria fazer algo para o Senhor e, uma vez que minha voz era baixinha e eu não tinha o hábito de cantar, tocar violão era tudo de bom, era o que eu sabia fazer para Deus. Eu era muito dedicada e boa instrumentista. Eu tocava na igreja central, em todos os salõezinhos da cidade e em cidades vizinhas. Era muito trabalho, mas eu fazia com prazer, amava tocar. Havia dois dias na semana em que eu saía da aula e um irmão já estava na porta da escola me esperando para me levar para tocar em outra cidade, sem banho e sem lanche. Eu estava fazendo a obra.

Entrei na Maranata com quase 15 anos e me casei com 19 anos. Eu já estava casada, com 21 anos, quando colocaram todo o grupo de louvor no banco, e eu junto. Passaram todos no grupo de intercessão. Tiveram um sinal para eu ficar no banco por 30 dias e os demais por tempo indeterminado. Naquela semana eu descobri que estava grávida, mas ninguém sabia ainda. Então eu não fui para o banco porque estava grávida. Passados os 30 dias, foi formado um outro grupo de louvor. O pastor disse que era melhor poucas pessoas sem pecado do que um grupo grande e com pecado. Eu fiquei de fora do grupo de louvor, não fui levantada. Fiquei muito triste porque, quando completados os 30 dias, apenas meu marido foi levantado novamente para tocar. Ele era mais antigo na igreja que eu. Passei a não fazer falta para a igreja. E o tempo foi passando e nada de lembrarem de mim. Eu passei a gravidez toda muito triste e chorava sem entender o motivo do banco. Depois que meu neném nasceu, completados 18 meses de banco, eu procurei um pastor para pedir que me deixasse voltar a tocar. Este pastor me respondeu que 18 meses não era nada, tinha um irmão de outro bairro que estava no banco haviam 5 anos. Dito isso ele se levantou e saiu, nem mesmo orou por mim.

Lembro-me de passar um aniversário sozinha porque meu marido ficou ensaiando até às 10 horas da noite e eu esperando do lado de fora da igreja, sozinha, porque ele estava fazendo a obra. Minha tristeza era muito grande porque eu amava tocar. Daí passei a ficar com depressão e fui ao médico, que me receitou um antidepressivo forte, ficava meio dopada. Fiquei fazendo tratamento com psicólogo e psiquiatra, mas eu não dizia que a tristeza era por causa da igreja, eu não poderia expor a obra, então eu ia contando frustrações da infância, afinal, ser criada sem mãe deixa a gente com uma riqueza de tristezas e frustrações. O pior era que o pastor ficava conversando com o meu marido na minha frente e dizia que a igreja precisava orar para levantar mais instrumentistas porque tinham poucos. Era ruim também os olhares da igreja achando que eu estava “desacertada”.

Certo diácono disse para uma jovem não conversar comigo porque eu não era boa companhia, e ela me contou. Eu não pensava em sair da igreja, minha família toda estava lá, também acreditava na obra perfeita. Foi uma fase de humilhação e crueldade porque a igreja desconfiava de que eu tinha feito alguma coisa errada para estar no banco por tanto tempo, mas eu nem tinha tempo para pecar, não saída de casa, não existia internet, meus vizinhos eram duas viúvas e a tia do meu marido, eu tinha um neném pequeno, que, aliás, foi crescendo comigo “no banco”.

Após 5 anos de banco eu fui levantada para tocar, graças a um pastor misericordioso que atendeu meu pedido e me passou no grupo de intercessão e me deu oportunidade de voltar a tocar. Daí eu voltei a ser usada, toquei no grupo de louvor, grupo do polo, grupo das servas, casamentos, seminários, ensinava os louvores novos para a igreja… voltei a trabalhar muito e com prazer, eu gostava de tocar, até que, após uns anos de refrigério, buscando mais intimidade com o Senhor, eu fui verificar porque tantas pessoas estavam saindo da ICM, deixando a obra do Senhor. Ainda que os homens tivessem cometido todos os crimes que se tornaram públicos, não era motivo para tantos saírem, afinal, era a obra do Senhor, e não estávamos firmados em homens, mas em Jesus. Só que saíram tantos homens sérios, servos de Deus, pastores, alguns dos quais eu conheci pessoalmente e sabia da maturidade espiritual e sinceridade em servir a Deus com honestidade, ungidos, irmãs e irmãos íntegros… Então, meus olhos enxergaram heresias, uma obra do homem, que maltrata pessoas, discriminam, homens altivos, que chamam irmãos de outras igrejas de primos… Eu não podia negar essas coisas porque esta maldade eu vivi na pele, e eu era soberba também. Eu não dizia, tratava a todos com respeito, mas eu me sentia a melhor por pertencer à verdadeira obra, projeto de Deus enviado somente para a ICM, porque era assim que ensinavam, fui boa aluna.

Embora o coração não queira admitir, qualquer pessoa que parar para ler sobre os acontecimentos e conferir a doutrina da ICM à luz da Bíblia e não à luz dos seminários, não fica na ICM, simplesmente porque quem ama a Deus vai querer viver com Deus e não com o engano, porque o pai da mentira é o diabo. Sei que há alguns irmãos que lutam para mudar a igreja, tomara que consigam, mas não deixa de ser um desafio ao seu dono e fundador, seria para ele como tomar posse de coisa alheia. Triste, mas é a realidade. Mas se você, que luta para mudar a igreja, acredita em sua luta, fique e lute. Deus usa a cada um de diferentes maneiras.

Eu sinto como se a igreja que amamos só existiu de fato em nossos corações. Por este motivo, peço que estes irmãos me perdoem, que Deus os abençoe. Mas quanto a minha posição, no meu coração eu agradeço ao Senhor que teve misericórdia da minha vida e me tirou desse negócio. Quanto tempo de sofrimento! No início eu me perguntava por que sofri tantos anos, fui maltratada, desprezada. Agora eu sei: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem.” (Jó 42.5)

Eu valorizo Jesus, sou serva remida, o fardo de Jesus é leve, seu julgo é suave, tenho uma eternidade com Deus e estes anos de sofrimento não contam mais. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.” (Salmos 119:71)

Saí da ICM. Meu casamento está dividido, meu marido não me apoiou, meu pai parou de conversar comigo, meu neném, que agora já é uma pessoa adulta, está totalmente formatada nesta seita, é uma pessoa infeliz, fechada e não enxerga, um robozinho. Ninguém quer me ouvir, preferem a obra, segundo eles, eu estou fora da obra e não mereço ser ouvida, olhei para o homem. Eu choro por eles, mas na minha vida Jesus está em primeiro lugar, acima de tudo e de todos. Eu jamais me deixarei estar sob o julgo de um sistema perverso, que prende, maltrata, chantageia, impõe medo às pessoas em nome de Deus, não aceitam nada além da obra, mentem.

Há fiéis e inocentes neste sistema, pessoas sinceras e humildes. Mas quem tem seus olhos abertos não consegue permanecer. Eu até tentei, mas me senti enganando meus irmãos amados. Há pessoas que não saíram e ficam lá, postando mensagens bonitas no Facebook para enganar pastores e irmãos e falando mal da igreja entre eles. O sacrifício de Jesus na cruz por mim foi muito grande para me tornar livre, não o posso trocar por uma prisão dessa, mesmo que pareça ser uma cela especial. Eu sou livre em Jesus!

Não pensem que estou triste, sofrendo, estou feliz e creio que o Senhor não me libertou para sofrer, grande tem sido o agir de Deus na minha vida e alcançará todos os meus familiares, nenhum vai se perder, aquele que me prometeu é fiel e vai cumprir. Conheço o tamanho do meu Deus.

A Paz do Senhor.

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