John Wesley – médico do corpo e da alma – a saúde na vida cristã

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John Wesley era profundamente fascinado pela medicina. Acompanhava de perto a literatura sobre o tema e chegou, inclusive, a questionar a capacidade profissional de alguns médicos. Conforme anotação feita no dia 7 de janeiro de 1773, ele faz uma visita a uma menina que estava morrendo de varíola. Ao descobrir que a medicação receitada era unicamente açafrão ele interfere no tratamento e recomenda aos pais da menina que mudem os remédios. Dias depois, quando a paciente já se encontrava restabelecida, ele assinala que salvou a criança da morte e dos médicos e indaga a respeito da competência do médico, “Como pode uma pessoa ser tão ignorante?”

Numa outra ocasião, em 16 de agosto de 1748, quando viajava de Newcastle a Leeds, lê o “Relato da praga em Londres”, escrito pelo Dr. Hodge e fica muito surpreso ao verificar que o doutor ainda não tinha aprendido, mesmo com os sintomas tão evidentes, que a primeira parte atacada pela infeção é o estômago. Ele continua obstinadamente a insistir no regime de cura por meio do calor, mesmo com os péssimos resultados alcançados, a morte da maioria dos pacientes que estão sob seus cuidados.

Na “Carta a um clérigo”, escrita em 4 de maio de 1748, Wesley concorda que vida e saúde são coisas muito importantes e que é inquestionável que os médicos devem ser muito bem preparados para o exercício da profissão. Entretanto, diz ele, o que podemos pensar quando um médico, formado, por exemplo, na Universidade de Dublin e considerado apto para o exercício da profissão, não consegue realizar o seu objetivo. Se, entre mais ou menos quinhentos pacientes, ele não conseguir curar nenhum deles, o que se pode pensar deste médico? Por outro lado, se alguém que não possui a formação profissional de médico, mas possui conhecimento de medicina e tem compaixão pelos enfermos e moribundos, começar a curar muitos dos doentes que o doutor não pode sarar, e tudo isso sem nenhum pagamento. O que fazer numa situação dessas?

O tema da prática médica exclusiva aos portadores de um diploma universitário é questionado por John Wesley. Acha que o tema deve ser revisto. Afinal, deve ser condenado aquele que consegue curar enfermos que o médico titulado não consegue curar, apenas porque ele não possui estudos completos e uma educação universitária? Será que o fato de não ser médico devidamente autorizado lhe tira todo direito de exercer o seu ofício? Wesley diz que não concorda com essa opinião, pois médico é aquele que cura (medicus est qui medetur) e não-médico é aquele que não cura (medicus non est qui non medetur). Ele reconhece que o título universitário de doutor em medicina dá autoridade e oferece um mínimo de garantia, só que nem sempre isso ocorre. Muitos médicos não estão capacitados para desempenhar a profissão, diz ele.

ABANDONANDO O CHÁ

Na Inglaterra do tempo de John Wesley o chá era quase uma instituição, sendo utilizado pela esmagadora maioria da população. Tratava-se de um costume profundamente arraigado na dieta alimentar das pessoas.

Muitas pessoas cultivavam a planta do chá em pequenas hortas residenciais. Na visita que faz a um jardim em Mile Ende, em fevereiro de 1775, de propriedade de James Gordon fica conhecendo diversas modalidades da planta.

John Wesley começou a tomar chá com 17 anos de idade e o fez durante décadas. Em meados de 1746, numa longa conversa com alguns líderes metodistas de determinada cidade, o assunto em pauta foi a necessidade de oferecer aos pobres da sociedade metodista local algumas sugestões práticas de economia. Quais eram os produtos consumidos com regularidade pela população que traziam prejuízos à saúde física e ao bolso do consumidor? Depois de algum tempo de conversa chegaram ao chá. Todos admitiram que as famílias gastavam dinheiro com aquela mercadoria e que, além do aspecto financeiro, tratava-se de um produto que não trazia benefícios à saúde do consumidor. Foi decidido abandonar o chá e os líderes deveriam ser os primeiros a dar o exemplo.

No seu Journal John Wesley assinala que seguiu à risca a decisão, sabendo que teria dificuldades para romper um costume de 26 anos de prática. Como resultado, teve dor de cabeça nos três primeiros dias, mais ou menos durante o dia inteiro, e ficou meio dorminhoco de manhã à noite. Ao terceiro dia, pela tarde, perdeu a memória quase completamente. Pela noite buscou o remédio através da oração. Na manhã do dia seguinte sua dor de cabeça havia desaparecido e a sua memória estava mais alerta que nunca. Nenhuma outra dificuldade ele enfrentou e conseguiu vencer o vício do chá. Diz que o novo costume trouxe benefícios razoáveis em muitos aspectos.
Durante doze anos ele não experimentou chá, até que o Dr. Fothergill, seu médico assistente, recomendou-lhe a usá-lo novamente. Em outubro de 1759, ao reclamar da esposa, ele diz que ela não lhe dava nem liberdade para tomar um chá com membros da sua família. Tomou chá o resto de sua vida.

SAÚDE PERFEITA

Apesar de possuir uma constituição física muito franzina, John Wesley gozava de boa saúde. Ele continuou ativo e lúcido até os últimos dias de sua vida. Quando havia completado oitenta e um anos ele escreveu o seguinte: “Estou tão forte aos oitenta e um, como era com vinte e um, mas com melhor saúde. Desconheço o que é dor de cabeça, dor de dentes e outros transtornos corporais que me afetaram na juventude. Enquanto vivemos, vivamos para Ele”. Ao completar 83 anos de idade ele afirma: “Eu mesmo estou assombrado. Agora faz doze anos não tenho sensação de fadiga. Nunca estou cansado (tal é a bondade de Deus!) nem ao escrever, pregar ou viajar. Uma causa natural sem dúvida é meu exercício contínuo e mudança de ares. Como este último contribui para a saúde eu não sei, mas certamente contribui.”

Considerando o seu ritmo de vida podemos considerar como graça divina o fato de ter resistido tão bem e durante tanto tempo. Aliás, é ele mesmo quem assinala que sua boa saúde não pode ser atribuída a nenhuma causa secundária, mas somente ao Soberano Senhor de tudo. Whitefield, por exemplo, que também foi um viajante incansável, não teve a mesma sorte, morrendo bem mais jovem, com asma, no dia 30 de setembro de 1770, com bem menos de sessenta anos de idade.

Wesley enfrentou muitas intempéries em suas inúmeras viagens, intempéries estas que poderiam facilmente ter culminado em alguma grave enfermidade. Em seu Journal, no dia 16 de fevereiro de 1747, uma segunda-feira, ele explica que no dia anterior havia passado por maus bocados. Diz que ficou extremamente debilitado e sem forças. Ele estava viajando e ficou assombrado com a calmaria do tempo, coisa que raramente ocorria. Só que o seu assombro terminou muito depressa. O vento mudou completamente ao norte e soprou com tanta força e intensidade que quando ele e seus companheiros chegaram a Hattfield não mais conseguiam sentir as mãos e os pés. Como tinham hora para chegar ao destino descansaram apenas uma hora naquele local e novamente recomeçaram a viagem, enfrentando vento e neve. Mais adiante, em Baldock Field, a tormenta começou com muito mais força. O granizo caía com tanta violência em seus rostos que não conseguiam ver nada do que estava na frente e mal conseguiam respirar. Apesar de todas essas dificuldades eles conseguiram chegar ao destino, em Baldock, onde alguém os esperava para conduzi-los a Potton. Diz que fizeram esta outra parte da viagem e às seis horas da tarde já estava pronto para pregar o Evangelho.

PROBLEMAS DE SAÚDE

No domingo, dia 27 de fevereiro de 1791, John Wesley está um pouco mais lúcido. Desde quinta-feira, dia 24, que o Dr. Whitehead, seu médico e amigo de confiança, o acompanha. Seu estado de saúde não é nada bom. O pastor José Bradford, que acompanhou Wesley em inúmeras viagens e que vai substitui-lo na direção do movimento metodista, presidindo a importante Conferência de 1795, que adotou o Plano de Pacificação, envia uma nota urgente a todos os pregadores metodistas, em Londres, dizendo: “O sr. Wesley está muito doente, orai, orai, orai.”.

Depois de passar alguns dias em repouso absoluto, só assistido pelo médico, por Bessie Ritchie e por Bradford, Wesley dá uma repentina melhora. No domingo, ele está com as feições mais alegres. Sai da cama, senta-se na cadeira, bebe uma xícara de chá e sorridente, repete alguns versos do irmão: “Senhor, atende o teu servo, até que eu deixe alegremente este corpo, e coroa a minha vida de misericórdias com um fim triunfante.”
Ali, naquele momento, ele se lembra de uma experiência vivida em Bristol, oito anos antes, quando também acreditava estar vivendo os seus últimos momentos. Na ocasião ele disse ao seu assistente, o mesmo José Bradford: “Tenho estado refletindo sobre a minha vida passada; tenho passado em revista os cinqüenta a sessenta anos idos, nos quais, segundo os meus fracos esforços, tenho tentado fazer algum bem a meus semelhantes; e, agora, provavelmente, estou a poucos passos da morte, e que tenho eu que posso confiar para a salvação? Nada vejo naquilo que tenho feito ou sofrido que seja digno de nota. Não tenho outro plano senão este: Sou o principal dos pecadores, mas Jesus morreu por mim.”

Agora, sentado em City Road, ele se lembra da cena ocorrida em Bristol e reconhece que não é necessário dizer nada mais do que foi dito naquela ocasião. Ele repete: “I the chief of sinners am, But Jesus died for me.” (Sou o principal dos pecadores, mas Jesus morreu por mim).

Neste mesmo dia, um pouco mais tarde, ele se encontra deitado e diz: “Quão necessário é que cada um edifique sobre o alicerce adequado”. E depois disso repete novamente as mesmas palavras: “I the chief of sinners am, but Jesus died for me.” John Wesley está se preparando para o grande encontro com Cristo.

CUIDANDO DA SAÚDE

Enquanto estava em visita à Irlanda, John Wesley escreveu, no dia 24 de abril de 1769, uma severa carta ao pastor Richard Steel, com treze sugestões abordando pregação, visitação, saúde, comportamento e diversos outros temas:

“Quero lhe dizer as coisas que tenho pensado desde que regressei da Irlanda. Se não as levar em conta, sofrerá; se as observar, será bom para nós dois.

Comecemos com as coisas pequenas. Se a saúde é importante para você, não jante nada mais que um pouco de leite ou cereal com água.Com a ajuda de Deus isto lhe protegerá de uma desordem nervosa, especialmente se levantar bem cedo, todas as manhãs, quer pregue ou não.

Seja firmemente sério. Não há outro país no mundo onde isto é mais necessário do que na Irlanda. (…)

Em cada povoado visite de casa em casa a todos que puder. (…) É por este meio que as Sociedades crescem onde quer que Thomas Ryan esteja. Desde cedo até à noite ele prega, advertindo a cada pessoa, para poder apresentá-la perfeita diante de Jesus Cristo.
Em toda e qualquer ocasião evite familiaridade com as mulheres. Isto é um veneno mortífero tanto para elas como para você. Não pode pecar por ser demasiado cauteloso neste assunto. Comece a fazer isto desde agora.

O tópico principal de sua conversação tanto como de sua pregação deve ser os temas mais importantes da lei. Há, também, várias coisas pequenas que deve realizar com sinceridade. Algumas delas são:
Seja ativo e diligente; evite a preguiça, moleza e indolência. Fuja deste tipo de coisa; se não, nunca passará de um meio cristão.

Seja limpo. Nisto os metodistas deveriam imitar o padrão dos quakers. Evite todo aspecto desagradável, a sujeira, o desasseio, em sua pessoa, em sua roupa, em sua casa e em tudo que lhe rodeia. (…)

Que sua roupa sempre esteja em bom estado. Nunca use roupa rasgada, esfarrapada. (…) Remendem suas roupas ou não esperem que as pessoas remendem as suas vidas. Que ninguém veja um metodista maltrapilho.

Fique limpo dos piolhos. Eles são prova da falta de limpeza e de asseio. Não corte seu cabelo; mantenha-o sempre limpo.

(…)Não use tabaco a menos que seja receitado por um médico. É um capricho impuro e daninho. Deve romper com esse costume pernicioso. (…) Os cristãos não devem continuar com este vício.

Não toquem o licor. É fogo líquido. É um veneno seguro e lento. Drena as forças da vida. À bebida, ao tabaco em pó e às casas cheias de fumo é que atribuo a cegueira que é tão comum na nação.”

NOTAS
Cavaleiro Veloz é Revista Eletrônica (INPI)
Dez anos de Ministério ficaram na História.
O direito de opinião tem amparo na Constituição Federal.
“O SENHOR é minha bandeira.”
CV