Lembrando-se da Igreja Perseguida e da Nossa Necessidade de Orar

Durante muitos anos minha família sentiu interesse e preocupação em orar pela União Soviética. Então, em 1994, nosso sonho tornou-se realidade — uma porta foi aberta para servirmos como missionários em Moscou, onde pudemos encorajar os santos e ajudar a discipular a ceifa de novos convertidos que o fim da Guerra Fria possibilitou. Em 1996, somos solicitados a viajar até Rybinsk, uma cidade rural cerca de dez horas (de trem) ao norte de Moscou, às margens do rio Volga. Iríamos entregar Bíblias para as crianças e literatura cristã na Igreja Cristã Evangélica Batista Casa de Oração. Durante nossa visita de três dias, ficamos no quarto de hóspedes da casa da família do pastor Kravtsov. Nessa casa térrea de madeira, com uma grande horta de legumes e verduras, o pastor e sua mulher criaram cinco filhos e realizaram serviços secretos de adoração todos os domingos durante cerca de 25 anos.

Pedi permissão ao pastor para lhe fazer algumas perguntas pessoais. O tradutor interpretou e não foi necessária nenhuma insistência para ele consentir. “— Conte-nos quando teve início sua caminhada com Deus”, perguntei. Os olhos dele cintilaram quando ele começou a refletir.

“— Tenho carregado minha cruz desde que eu era criança”, ele disse, “desde meus primeiros anos de vida. Meu pai foi preso por pregar o Evangelho. A maior parte daquilo que sei a respeito dele foi por meio de outras pessoas. Ele foi morto em 1933, quando eu tinha somente três anos de idade.”

“— Mas, eu me lembro do meu avô. Por causa dele a propagação do Evangelho teve início em nossa cidade. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi capturado pelas tropas austríacas. Alguns anos mais tarde ele voltou para casa como um cristão batista. Em 1917 isto era algo novo. De algum modo, as pessoas na cidade sentiram a presença da verdade e começaram a ir à casa dele, que se tornou uma casa de oração. É difícil imaginar que nesta pequena casa de madeira, todos os domingos, durante 25 anos, as pessoas vinham de diferentes partes da cidade para adorar, apesar do risco elevado de perseguição.”

“— Qual foi o período mais difícil na sua vida como pastor?”, perguntei.

“— Foi o tempo da maior perseguição à igreja — nos anos 1950s, 1960s e 1970s”, ele respondeu. “— Era difícil um dia em que alguém da KGB não viesse me assediar ou tentar me fazer contemporizar em minha fé. Em 1965, um irmão da Organização Batistas Unidos veio de Moscou e me pediu para ser o pastor reconhecido aqui. Naquele tempo, eu estava pregando e liderando as pessoas, mas não era chamado de pastor. Minha mulher e eu varamos a noite discutindo as dificuldades desta decisão. A KGB já sabia a respeito da proposta, pois no dia seguinte eles vieram e me informaram que, se eu decidisse ser o pastor, eles me levariam direto para a prisão. Minha mulher me disse: ‘— Leonid, ser um pastor é um chamado de Deus. Você precisa decidir se quer seguir. Deus sabe. Ele cuidará da nossa família se a KGB o enviar para a prisão.’ Deus me protegeu e eles não me enviaram para a prisão por algum tempo.”

No último dia de nossa visita a Rybinsk, fiquei na parte de trás do salão da igreja da Casa de Oração. Havia cerca de 300 santos ali: as mulheres usavam vestidos de cores escuras, com xales cobrindo os cabelos das casadas; os homens vestiam camisas brancas abotoadas até o colarinho. Todos estavam solenes, porém de algum modo, o senso de temor alegre era palpável. Aquele era o encerramento de um serviço de mais de duas horas que tínhamos compartilhado juntos. O pastor Leonid Kravtsov, de 62 anos, estava servindo a Ceia usando um cálice de pedra — pessoalmente, individualmente — a todos os 300 membros de sua congregação. Enquanto eu esperava que ele chegasse até nosso banco, reverentemente olhei ao redor, observando a parede da honra, coberta com fotografias antigas de membros da igreja que tinham sido enviados para a prisão por causa da fé em Jesus Cristo durante os anos mais severos da repressão comunista. Um cartaz que mostrava aquele mural esteve afixado na parede da cozinha do nosso apartamento na Califórnia, muitos anos atrás. Nós o usávamos como um lembrete para que toda a família orasse pela saúde e proteção daqueles cristãos que padeciam nas prisões e em campos de trabalhos forçados. Naquele momento, achei difícil de acreditar que eu estivesse ali, compartilhando na unidade da comunhão dos santos, no meio de cristãos tão corajosos.

Devemos Orar Por Que Deus Responde às Orações

Devemos orar pelos cristãos perseguidos por que Deus responde às orações. Tenho evidência disso em primeira mão. Em 1978, começamos a orar por Lida Vashchenko e seus seis parentes que buscaram asilo na Embaixada Americana, em Moscou. Conhecidos como “Os Sete Siberianos”, por cinco anos eles temeram por suas vidas, se dessem um passo para fora do santuário que a Embaixada oferecia. Devido à pressão política do Ocidente e à intervenção de Deus em resposta às orações, eles receberam permissão de emigrar em 1983 e se estabeleceram no estado americano de Washington.

Naquele mesmo ano, o músico cristão Valeri Barinov foi internado em um hospício por sua “maluca” insistência que Jesus Cristo estava vivo e era seu amigo pessoal. Uma campanha de oração foi iniciada em seu favor e hoje ele está vivendo livre na Inglaterra.

A resposta de Deus às orações resulta na libertação dos cativos. Ele também responde às orações trazendo conforto espiritual e físico àqueles que estão sofrendo como resultado de sua fidelidade a Cristo. Mikhail Khorev, em um período de profundo desespero e sofrimento, até chegou a pensar em orar por sua própria morte. Mas então, em uma manhã, tudo mudou. Ele foi chamado pelas autoridades a partir de sua cela úmida e fria e recebeu a permissão de tomar um banho e vestir roupas limpas. Qual foi a causa para esse súbito tratamento gentil? Ele não tinha a menor ideia. Mais tarde, porém, descobriu o segredo.

“Eu não sabia sobre a atenção internacional ao meu caso. As cartas que tinham sido impressas no Vestnik Istiny tinham chamado muita atenção. Muitos cristãos de todo o mundo estavam orando por mim e pelos outros cristãos que estavam nas prisões russas. Os governos foram pressionados a fazerem alguma coisa a respeito da nossa situação. Esta foi a razão para o alívio em minha pena. Mas, Deus orquestrou tudo aquilo, tenho certeza. Sua perfeita vontade estava sendo feita.” [2].

Em agosto de 2016, o presidente russo Vladimir Putin restaurou uma antiga lei que proibia a livre pregação e compartilhamento do Evangelho. Quem violar essa nova lei recebe multas severas. Nos anos 1960s e 1970s, Georgi Vins, um jovem pastor batista na União Soviética, esteve em uma situação similar. Ele passou oito anos (começando quando tinha 32 anos) em prisões soviéticas. Vins, um líder na igreja subterrânea na União Soviética até sua prisão, conta uma experiência que teve na prisão em seu livro The Gospel in Bonds (O Evangelho em Cadeias) Após ser classificado como um prisioneiro “faixa vermelha” (um prisioneiro que poderia fugir do campo de trabalhos forçados), Vins foi submetido ao tratamento cruel que essa designação implicava. Mesmo após assegurar aos guardas que, por ser um cristão, ele estava obrigado a obedecer a todas as regras que lhe fossem impostas, desde que não estivessem diretamente contrárias à Palavra de Deus, o prisioneiro cristão era acordado a cada duas horas durante a noite, isto após a jornada normal de dez horas de trabalho pesado durante o dia. O tratamento severo adicional e não-merecido quase fez com que ele se sentisse desesperado da vida. Ele escreveu:

“Nunca eu tinha me sentido tão esquecido, tão abandonado naquele estranho mundo de um prisioneiro. Era como se nada existisse, exceto a desolação do campo de trabalhos forçados, nada, exceto guardas e prisioneiros, opressão e escravidão. [3].

Então, um dia, sem explicação, a faixa vermelha foi removida e ele recebeu a permissão de voltar a ter a vida de um prisioneiro “normal”. Vins cantava hinos de louvor ao Senhor, seu Libertador.

“A vida era muito mais fácil sem a faixa vermelha. Parecia que eu já estava na metade do caminho para a liberdade! Anos mais tarde, fiquei sabendo que cristãos em meu país e em todo o mundo tinham orado por mim e escrito petições ao governo soviético em meu favor. Sou agradecido por terem se lembrado dos prisioneiros, inclusive de mim.” [4].

Devemos Orar Por Que a Bíblia nos Instrui a Fazer Isto

O Senhor Jesus advertiu Seus discípulos que aqueles que o seguem enfrentarão perseguições. O livro dos Atos dos Apóstolos registra o início do cumprimento dessa predição. Alguns dos apóstolos foram presos e açoitados. Estêvão foi apedrejado até a morte. Tiago, o irmão de João, foi executado à espada. John Foxe descreve o martírio de Tiago:

“Logo após ter sido indicado governador de Judeia, Herodes Agripa… organizou uma severa perseguição contra os cristãos e decidiu dar um golpe eficaz por meio de um ataque aos líderes… quando Tiago foi levado ao local de martírio, seu acusador foi trazido ao arrependimento de sua conduta pela extraordinária coragem do apóstolo. Seu acusador caiu aos pés de Tiago, pedindo seu perdão, professando ser um cristão e decidindo que Tiago não deveria receber a coroa do martírio sozinho. Desta forma, ambos foram decapitados na mesma hora.” [5].

Logo em seguida, o rei Herodes colocou Pedro na prisão, acorrentou-o entre dois guardas, com dois guardas adicionais posicionados do lado de fora da cela.

“E, havendo-o prendido, o encerrou na prisão, entregando-o a quatro quaternos de soldados, para que o guardassem, querendo apresentá-lo ao povo depois da páscoa. Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus.”

[Atos 12:4-5].

Não sei sua opinião, mas sempre achei o relato do que aconteceu em seguida nesta história um pouco engraçado. Uma luz forte resplandeceu na prisão, um anjo apareceu e os grilhões de Pedro se abriram. Mas, o anjo teve de dar um toque em Pedro para despertá-lo. Pedro deveria estar semi-acordado, pois lemos as instruções do anjo, como se Pedro não pudesse entender sozinho aquelas coisas. “Levante-se! Agora vista-se. Calce suas sandálias! Agora pegue sua capa. Venha, siga-me!” O anjo o levou então para fora da prisão, até a cidade e depois o deixou.

Pedro então caminhou até uma casa em que sabia que os discípulos estariam reunidos. Mas, os mesmos santos que estavam orando a favor de Pedro não puderam acreditar que era ele quem estava batendo à porta. Depois de uma confusão inicial, eles abriram a porta e o deixaram entrar. A Escritura diz que “eles se espantaram”.

Acho que também sou um pouco assim. Oro pela igreja perseguida, para que os cativos sejam colocados em liberdade. Deus ouve. Deus responde! Mas, depois, fico espantada.

Os autores das epístolas do Novo Testamento compreendiam nossa relutância em orar e fazer pedidos tão elevados assim, de modo que nos exortaram a nos “lembrar daqueles que estão em prisões” [Hebreus 13:3], porque “quando um membro padece, todos os membros padecem com ele… ” [1 Coríntios 12:26]. Aqui estão outras exortações:

“No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós; e para que sejamos livres de homens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos.”

[2 Tessalonicenses 3:1-2].

Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos; o qual nos livrou de tão grande morte, e livra; em quem esperamos que também nos livrará ainda, ajudando-nos também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito.”

[2 Coríntios 1:8-11].

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais… Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos.”

[Efésios 6:11-12,18].

CONTINUA…

Uma Resposta para “Lembrando-se da Igreja Perseguida e da Nossa Necessidade de Orar”

  1. Quer ser feliz?

    Afaste-se dos erros, arrependa-se de seus pecados, busque a Face do Pai Celestial e derrame diante Dele a angústia e a decepção de sua alma.

    Deposite Nele a dor, o medo e o que mais entristece e incomoda. Coisa sua com Deus, no quarto de oração e porta fechada, como Jesus ensinou.

    Ele ouvirá a sua oração, tão certo como “perto está o SENHOR”.

    Estamos no Décimo Ano de Ministério.

    “O SENHOR é minha bandeira.”

    CV

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