Os meia solas

Bolsonaro e a maldição da meia sola | VESPEIRO Esperando a hora do embarque, estiquei o ouvido ao diálogo.

– Meia sola?! – alguém perguntou.
– Acorda, homem! – foi a resposta meio ríspida –, ele falou: meia sola… algo como embromação…
– Mas não entendi bem este vídeo. Quer dizer que…
– Quer dizer que o esperto sapateiro apanha barbante, cera e sovela para remendar sapatos velhos… remendo em cima de remendo. Na fábrica de meia solas é assim que funciona… na base de rodízio. Entendeu?!
– Ainda estou intoxicado e não entendi tudo. Porque ele disse que quer jogar fora os meia solas?
– Encenação meu irmão. Jogo de cena do mágico enquanto joga malabares. Ele não consegue viver sem holofotes e sem meia solas.
– Mas qual o valor que ele dá para cada meia sola?
– Nenhum… nenhum valor. Mas com os meia solas ele se manteve na sapataria… como se fosse o dono exclusivo deles, fazendo-os crer que dependem dele em cada novo remendo em cima de remendo velho…
– Hummm! Então, isto está inserido no projeto de salvação?
– Escuta, companheiro: cada convocação dos meia solas na sapataria é para uma engraxada. Brilho artificial, equivocado e mentiroso… Dá pra entender? Política de autodefesa, avareza, dissimulação, manipulação e de preservação no comando dissimulado dos balcões de negócios da sapataria…
– Mas não é enganação?
– Duvida?! Coisa de Judas beijando Judas no beco sem saída, ouvi dizer… E olhe: de esperto ele fez herdeiros na sapataria e armou o voto de cabresto…
– Que isso!!!
– Mas o povo não aguenta meia solas, nem o dono da sapataria. Cansou!!!
– Então, você acha que…
– Escuta… vem mais por ai: os fiscais da fazenda estadual e federal fecharam cerco em derredor da quadragenária sapataria… e salve-se quem puder.
– Por que o sapateiro não investiu em sapatos novos?
– Que diferença faz, homem? Quem diz que ele abandona a arte de fazer meia-solas?
– Pelo menos, não precisaria de remendos e mais remendos…
– Benício, entenda: a enganação é fundamental para a manutenção da sapataria. O barbante (DON), a cera (doutrina revelada) e a sovela (bíblia além da letra) continuam como elementos essenciais dos remendos. Enquanto ele introjeta a sovela nos meia-solas, amarra com o DON e passa a cera, ele garante a fábrica de meia-solas e o sistema.
– Jesus!!! Fazer o quê??
– Olha, estão chamando para o embarque, mas te digo: companheiro, não dá para acreditar em meias-solas, nem depender dos hergueiros da sapataria…
Mais interessante quando alguém entrou em outro diálogo com um deles:
– Pois é…. Estava ouvindo e agora a novidade: parece que o primo do sapateiro deu uma de bonzinho e mandou uma carta fazendo perguntas ao sapateiro. Afinal de contas, o que ele querer?
– Eu li. Parece golpe… sei lá. – Foi a resposta do outro com a boca na mão.
– Golpe por quê??? – eles se entreolharam.
– Bom… penso que o caso é o seguinte: parentes são para essas coisas…
– Quê??? Quem é parente de quem?
– Quem fez as perguntas a quem deve responder, ora bolas – um terceiro entrou na conversa e continuou – e fica nessa lengalenga de obra de parentes: era o sogro, depois o cunhado e agora o primo entra em cena, desde que o dono da sapataria continue nas sombras. Nunca muda… você entende?
– Então, esses parentes estão armando um golpe? É isto???
– Gente, que nó! Agora a coisa fica muito pior: o sapateiro renuncia, o primo aparece como salvador da sapataria, encena a prestação de contas dizendo que a obra caminha para a eternidade… e fica como laranja do sapateiro…

O aviso de última chamada não me permitiu ouvir o restante…

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“O SENHOR é minha bandeira.

CV