Tão sozinho ali na cruz

1.
Tão sozinho ali na cruz,
Envolvido em dor cruel;
Sofre o Grande Redentor
Amargosa dor e fel.

2.
Densas trevas cobrem os céus.
Dele o Pai rosto escondeu.
Para me levar a Deus
Quanta dor ali sofreu!

3.
Sangue puro derramou
Pra lavar pecados meus.
Tudo consumado está!
Pelo Cordeiro de Deus.

Escrevi 10 (dez) hinos na primeira semana de agosto de 1983, entre eles, o hino Tão Sozinho Ali Na Cruz. Estava mergulhado em minha perplexidade, pois queria com Ele sofrer fora da porta (Hebreus 13.12) e seguir os passos de Jesus pelas ruas estreitas de Jerusalém em direção ao Calvário.

  Eu estava naquela multidão e ouvia gemido por gemido. O madeiro doía muito sobre os Seus ombros e, ainda que cambaleantes, definitivamente o passo a passo marcava o rumo. No Calvário estava o altar do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). O Calvário era o Seu alvo, Ele estava decidido e ninguém O impediria de lá chegar. O confronto derrotaria o “príncipe deste mundo”, decretaria o Judaísmo como reprovado e a vitória sobre o mundo entregue ao pecado.

Gemidos e olhos arregalados com as dores lancinantes, quais estrondo de furiosos relâmpagos em seu cérebro enquanto os pregos afastavam ossos e atravessavam as Suas carnes nos punhos e nos pés, deixando-O suspenso entre os Céus e a Terra. Lemos as Sete Palavras da Cruz e a mais prodigiosa, ao grito do Crucificado: ESTÁ CONSUMADO!!! Por fim, ouvido nos Céus, o Seu sangue – o precioso sangue do perfeito Cordeiro de Deus – foi posto sobre o Propiciatório pelo Próprio Sumo Sacerdote, rasgando o véu do Templo (e do tempo), de alto a baixo, selando o sacrifício com a obediência até à morte, e morte de cruz pelas mãos dos ímpios; e abrindo o caminho que nos leva ao Pai, por toda a eternidade, pelo véu de Sua Própria carne.

Lá dos cantinhos das lembranças, enquanto cantarolava a melodia e escrevia a letra deste hino, era o que emergia de quando ouvi pela primeira vez, em LP, em uma eletrola sem maiores recursos, Wachet Auf, ruft uns die Stimme BWV 140 – J S Bach. Acesse o link que segue. Diversas imagens da partitura de Wachet Auf aparecem nos sites de busca. O pastor e professor João Marques da Mota Sobrinho (1883-1964) fez a adaptação, em 1961, no hino Glorificação, Hinário Evangélico, n. 4, da CEB, 1962.

Na minha mente as notas da melodia eram como as duras e firmes marteladas, entremeadas com as dores dos santos na cena do Calvário e os gritos dos ímpios misturados com os risos dos sacerdotes. Imaginei que a congregação cantasse as notas musicais casadas nas palavras do poemeto, no compasso quaternário, em Si menor (Bm) e ao som de cordas. Especialmente em arranjos para o cello, como que expressando as dores do Cordeiro de Deus tão sozinho ali na cruz, como se as dores Cordeiro anunciassem, entre gemidos, sede, sofrimento e a esperança na ressurreição. No caso da letra e melodia em Si menor (Bm) traçam, em poucas palavras, o que isto significa para o espectador – qualquer um de nós. Para mim, a cada dia, conformando-me com Ele em Sua morte para que também com Ele sejamos glorificados.

Por isso, minha gente, nada de dedos duros e secos batendo em cordas; mas corações mergulhados na compreensão do que significa o comprometimento de com Ele sofrer fora da porta.

“Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Portanto, saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que ele suportou. Pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome.”              (Hebreus 13.12-15)

O hino Tão Sozinho Ali Na Cruz apela ao comprometimento com o “evangelho de Deus… poder de Deus e sabedoria de Deus”. Não há como falar de Calvário sem o confronto diário do carregar a própria cruz e seguir a Jesus, ressuscitado “dentre os mortos” (gr. ek nekron – para fora dos mortos). Não há como falar de Calvário sem contemplar algo consumado perfeita e plenamente. Não há como falar de Calvário sem com Ele sofrer fora da porta.

O hino Tão Sozinho Ali Na Cruz apela ao louvor perfeito que chega aos Céus ainda que o coração do crente esteja lançado no fundo do poço e rasgado pela perseguição de algum sistema religioso.

“Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.” (Filipenses 1:18).

O hino Tão Sozinho Ali Na Cruz não é mera poesia e sons; mas apelo à comunhão em amor, apelo à entrega incondicional Àquele que, por obediência a Deus, sofreu fora da porta e a Si mesmo entregou para a esperança da glória de Deus no arrebatamento da “igreja de Deus… corpo de Cristo” ao encontro do Senhor nos ares.

Precisamos ter em mente que nenhuma ameaça de sofrimento impediu os apóstolos de pregar a Cristo. Na verdade, Paulo disse, que valia a pena perder tudo

“para O conhecer, e o poder da Sua ressurreição, e a comunhão dos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua morte; para ver se, de alguma maneira eu possa chegar à ressurreição dos mortos.” (Filipenses 3.10,11).

Leia mais

http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/2012/09/come-thou-fount-of-every-blessing/comment-page-2/#comment-19138

http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/2010/01/a-ultima-chamada/comment-page-1/#comment-26754

http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/por-quem-jesus-morreu/

http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/como-gotas-de-sangue-caindo-sobre-a-terra/

http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/2010/01/a-ultima-chamada/

“O SENHOR é minha bandeira.”

CV

3 Respostas para “Tão sozinho ali na cruz”

  1. Bach – Cantata Wachet auf, ruft uns die Stimme BWV 140

    https://www.youtube.com/watch?v=DqZE54i-muE&t=1368s

    Aos 15:00 e cante

    Hinário Evangélico, 4 – Glorificação

    Melodia – Wachet Aut – Bach
    Adaptação em 1961, de João Marques da Mota Sobrinho (1883-1964), cuja biografia aparece em http://www.hinologia.org/mota-sobrinho/

    [1]
    Das ameias o vigia,
    Em róseo despontar do dia,
    Voz clarinante faz ouvir:
    Que Sião esteja atenta,
    A hora, vede, se apresenta,
    De o plano eterno se cumprir.
    Ó Virgens de Sião,
    Ao alto o coração!
    Aleluia!
    As portas já, andai, correi!
    Eis que é chegado o grande Rei!

    [2]
    Atendei! Levai, prudentes,
    Acesas luzes resplendentes.
    Alegra-te ó Jerusalém!
    Entre nuvens fulgurantes,
    Com céus e terras jubilantes
    Ao teu encontro o Esposo vem!
    Tesouro para os seus,
    Gracioso dom de Deus,
    Aleluia!
    Pois nos atrai, com grande amor.
    Contigo iremos, ó Senhor!

    [3]
    Encha os céus, inunde a terra,
    A glória que seu Nome encerra.
    Vós, os órgãos e harpas ressoai!
    Na cidade esplendorosa
    Não cesse a festa jubilosa
    Em torno ao sólio do Deus Pai.
    Jamais se contemplou;
    Sequer se imaginou,
    Tanta glória!
    A ele, pois, com gratidão,
    Louvor e eterna adoração!

    Mais

    https://www.youtube.com/watch?v=_B9eGXDKae0

    J.S. Bach – Cantata BWV 140 “Wachet auf, ruft uns die Stimme” (J.S. Bach Foundation)

    “O SENHOR é minha bandeira.”
    CV

  2. Com a leitura da pauta conseguimos acompanhar a belíssima Cantata na parte orquestral e coral.

    https://www.youtube.com/watch?v=hR5ImpCyrdY

    Destacando o uníssono com vozes masculinas

    https://www.youtube.com/watch?v=QIHFfuzKYPI&t=1046s

    Ah! Se Israel ouvisse o apelo dos tenores: Zion hört die Wächter singen.

    Quem sabe, Tão Sozinho Ali Na Cruz pudesse ser gravado em uníssono…

    “O SENHOR é minha bandeira”.

    CV

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